Podemos pretender…?
Que tudo sabemos
Que tudo desejamos
Esquecendo a razão
Que queremos que nos escape
Que quando a noite cai
Temos realmente medo…
Não medo da noite em si
Do que ela nos possa trazer
Mas antes daquilo que ela nos pode fazer evocar
O tal medo que encontramos no espelho
Quando a luz da socialização
Por umas meras horas
Lá calha se apagar…
E assim para não nos vermos
Recusamos viver na escuridão
Procurando em tal
Uma vaga consolação
Não querendo ver
Que é dentro de nós
Que habita esse sagrado monstro
A que uma alma
Ironicamente mais iluminada
Com toda a sua lucidez
Chamou
Solidão…
Ignorando
Que o facto de sabermos falar
Não invalida o facto
De não o sabermos realmente exprimir
Aquilo que nos come a alma
Não aquilo que nos faz sorrir…
Ignorando
Que não sabemos de certa forma o que queremos
E nos afastamos de quem mostra
Um pouco, um pouco de proatividade afectiva
Um pouco do poder de decisão
Que nos assusta
E que nos faz mergulhar
Na tal escuridão
E assim podemos pretender que tudo sabemos
Mas na realidade
É essa ausência de tudo
Ou qualquer coisa
Que nos realmente mete medo…