Que Pena...

Não valer a pena

Ter pena da pena

Porque ela merece isso

Ou se calhar não merece

Merece no lugar de um vasto sorriso

Um calado

E sentido

Mutismo…

Que pena

Do que se escreve não ser eterno

Porque tanto dá escrever na mais dura pedra

Como na areia ao largo de um qualquer mar

Com pena observo

Que o tempo

Com o tempo

Tudo irá apagar…

Que pena

Os juramentos não serem lei

Serem apenas um mero veículo

Para outros pensamentos

De duração variável

Tal depende

Do grau da civilização

E eu tenho pena

Das palavras que te digo

Serem rasuradas

Obliteradas

Não se fixarem em ti

Ficarem-se pela tua pele

Não te chegarem ao coração…

Que pena

Eu tenho de nós

Eu tenho do mundo

Que pena que eu tenho

Da hiper-superficialidade

De constatar

Que nada

Mesmo nada

É algo de profundo

Há um simulacro disso

Mas nem sequer se pode chamar a tal

Uma real tentativa

E eu tenho pena

Que por muito que me esforce

Nas artes

De te tentar pintar com afeição

Tal será sempre um esboço incompleto

Tal nunca passará de uma ferida…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 09/08/2011
Código do texto: T3149475
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