UM CERTO AMOR ME VIU
Vagava eu nutrido pela fome esclarecedora do engano
Um farto sábio insano, um pacificador no atoleiro dos conflitos
Um escriba de brancos manuscritos, servindo ao bondoso ego tirano
E assim seguia eu parando, gritando com os mais emudecidos gritos!
Robusto nas overdoses dessa magreza de alegre infelicidade
Caminhava eu nas alamedas da irrealidade, tocando a tudo sem tato
Sendo fiel ao trato lavrado com o destino e suas regras de crueldade
Onde a loucura era a serenidade e o devaneio era fato!
Deitado em leito de satisfação inundada por corrosiva mentira
Lapidando qual safira as brutas pedras de uma vida tão mortal
Seguia de mim mesmo um desigual, ao som de uma desafinada lira
Errando na mira, ainda que acertando-me com dardo fatal!
Até que o súbito não planejado, atropelou-me com a leveza de um ser
Banhou-me de um sublime renascer e ao se apresentar me reencontrou
Ao me ensinar quão frágil sou, como jamais outrora me vi fortalecer
De um rápído florescer, após me ver, o amor em mim frutificou!
*************************************************************
Reinaldo Ribeiro - O Poeta do Amor