Palavras 0443 - Abismos

Meus abismos são nada, só caminhos,

tudo que me negam consigo depois,

como o vento que busca tempestade

ou apenas a brisa com um pouco de paz.

Caminho temperaturas, frio e quente,

como os corpos que visito na solidão,

vezes deserto, outras, festas de prazeres

que tomam o coração por segundos.

Meu mundo é de vidro, teto, paredes,

de fora veem meus desejos, minhas ações,

de dentro somente eu caminho salões

respirando os ares desfeitos pelos nãos.

Sonho com uma vida simples, calma e real,

como uma estrada plana, sem o sim e o não,

donde a tristeza passa ao lado numa trilha

estreita e sem vistas aos meus olhos.

A vida não consegue carregar tantas mágoas,

abro as portas e as deixo ao vento, quando não,

como se liquidasse uma pequena divida

rasgo uma a uma e entrego ao vento-tempestade.

Abismos são como noites mal dormidas,

um barco sem amarras solto as ondas,

que em um breve futuro é devolvido ao porto,

só a vida sabe alimentar do pensamento bom.

Quando a sombra da solidão invade a alma,

caminho alguns horrores por instantes, logo,

arranco as fraquezas e as enterro na realidade,

um lugar onde todo ontem fica insignificante.

De algum espaço o vento do passado revolve

folhas secas e as areias, como se quisesse

ou se pudesse trazê-los de volta, mas não,

minhas respostas são prontas e absolutas.

Levarei algumas noites para voltar a sonhar,

o vento ora furioso, ora brisa, toca meu rosto

e seca lágrimas que teimam trazer lembranças,

logo tudo dissolve quando me tocam de amor.

Todo homem às vezes é praia, outras, oceanos,

enterro-me na areia quando a paixão me faz louco,

só e assim caminho a beira de abismos, e volto,

com alma de amante, impuro e com feliz alegria.

08/08/2011