SEM VOCE MINHA VIDA É VAZIA

Sem você não há estradas no caminho

Não há pássaros no ninho

Sem você o mar não tá pra peixe

O pescador não tem seu pescado

A peixada não tem caldo

O rei tá sem reinado

Até a lágrima não tem gosto de salgado

A paixão tá no rescaldo

E Vivaldi sem estação virou Vivaldo

Na ladeira estou sem freio

O mundo tá feio

Sem você até o dia de mim tá cheio...

Sem você nem bala eu acho no meio do fogo cruzado

Sinto-me mais rebaixado que casa de minhoca

Em condomínio de capim

Sem você a abstinência é uma grade sem ferrolhos

Sem você o circulo vicioso é uma reta sem fim

A água não mata a sede

No domingo não durmo na rede

Sem você a noite não tem lua

A cidade não tem rua

A avenida não tem vida

A vida tá crua e a vergonha tá semi nua

Sem você eu perco a chão

Só há visagem na cerração

Não tem calçada pra pisar

E a sala é uma prisão

O atraso é pontual

E o voto de pobreza é de cabedal

Sem você na extensão sou casa sem quintal

A ponte aérea se atravessa com os pés

Fica sem asas a imaginação

O avião fica sem o trem de pouso

Sem você a carcerária é minha solitária

A saudade não tem memória está estacionária

O mar fica sem navio

Sem porto pra chegar

Sem parente pra abraçar

Sem vontade de voltar

Sem a vaga pra vagar

Nem nada pra atracar

Se nada e se morre na praia vazia de nada...

A tabua de salvação bóia sem ninguém na baía

Sem você o bar não tem boemia

O poeta chora na mesa vazia

A sesta é cama vazia

A poesia rima com hipocrisia

O mendigo se farta da noite vadia

O vento não tem ventania

Na há livros na livraria

O nó da garganta é uma gargantilha

O ponteiro do relógio engatinha

Ninguém pega o bicho

Ninguém mata o bicho

Só eu viro bicho

Sem você o tempo morre numa lata de lixo