CANÇÃO DA INCERTEZA

Ah, amada! O dia vai correndo

qual um trem enorme,

seus vagões de sonhos,

balões gris.

Pássaros

entre copas de primaveras

pólen miúdo sobre nossas cabeças,

criam, de algemas,

flores

nos teus cabelos negros.

Disseste

com este jeito de quem chegou

e quer ficar:

— Quando se sabe que se tem?

Na lucidez da espontaneidade

cadente estrela fugidia,

voz plangente, um sino:

— Quando se crê que se tem!

E palavras são teias,

entre o sorriso e a dúvida.

– Do livro O SÓTÃO DO MISTÉRIO. Porto Alegre: Sul-Americana, 1992, p. 66. Texto revisado.

http://www.recantodasletras.com.br/poesiasdeamor/313780