Tu
Tua ausência não é apenas silêncio, solidão.
Quando me faltas, o caos se instaura em mim.
Há uma desordem deflagrada nas palavras
e a poesia se evade embalada em desconsolo...
Tua ausência desequilibra a minha vida,
o frágil pêndulo das horas fica inerte na insônia
enquanto eu passo pela noite sem qualquer percepção.
Quando me faltas, falta em mim o que viver.
Eu sou um estranho em mim: a miragem que me habita
no deserto que me causas, no descaso que cometes.
- E nem sabes que me matas se te ausentas pra viver... -
Eu dependo mais de ti do que o mar vive da lua.
Eu definho mais sem ti do que a nuvem chora o rio.
E o que a rosa, em desvario, chora pétalas no vaso,
não define o que se exaure quando verto o que me mata.
Não há nada que preencha o vazio do que me deixas
se me roubas teu sorriso quando morro de tristeza...
As estrelas se ausentam do meu céu se não me olhas.
- Toda luz que me circunda só imita o teu olhar. –
Que tragédia é a aurora se não abres a janela:
A manhã se intimida no exílio que exerces,
mesmo o sol te busca tonto pelas frestas da parede,
vagamente amanhece sobre a geada dos lençóis.
Todo verso desconversa se não canta em tuas mãos
pois o verso só é verso se verseja aos teus olhos.
A poesia te festeja quando tornas ao que foste,
se retornas para o ser que me vive quando estás.
Não existe o que me viva se desistes de ficar,
fica só o que se perde se não acho o que prescreves
que tu és a que avia a receita do que sou.