O TEU ROSTO

Passam os anos

passam as décadas

e teu rosto

sempre novo

renovado

entre todas as coisas criadas

o deboche

a ira

o espasmo

as coisas que escurecem os olhos

os óculos escuros

a ternura

a poesia dos mundos

as coisas que clareiam

a pele

a flor da boca

a cicatriz

a caminhar

sob a derme

no espesso no sangue

sempre o último rosto

a dormir em mim

antes que eu durma

o primeiro rosto a me acordar

antes que eu abra os olhos

nas manhãs

inexorável rosto

entre as pequenas ressurreições

e as pequenas mortes

a correr

a escorrer o tempo

esses

que nos banham

que nos submergem

que nos naufragam

que nos salvam

de vez em quando

tudo

sem nenhuma

nunca explicação.

Escrito na noite de 24 de julho; publicado no início da madrugada de 25 de julho de 2011.