Há lodo no cais…(?)
Porque dizes mil e uma vezes
Jamais
Prometes o que tens que prometer
Num dado momento
Em que julgas nada teres a perder
E quando reparas em tudo o que ficou para trás
Tudo o que deixas-te de fazer
Ou fizeste bem demais
Reparas que
Há lodo no cais…
E tropeças novamente na tentação
De querer tocar
Sem que em tal advenha
Qualquer tipo de condenação…
Uma espécie de penalização
Por quereres viver ao mesmo tempo no ar
Bem longe de tudo e de todos
E ao mesmo tempo no chão
Onde tudo se passa
Se calhar demasiado
E nesta dualidade
Não te espantas pela cisão
E ficas espantado sim
Por teres gente a teu lado…
Acendendo um cigarro trivial
Numa banal reflexão
Num invulgar momento de paragem
Num quase inédito momento de contemplação
Deixas que o cigarro se apague
Que a inquietação tome conta de ti
Uma vontade irreprimível de continuar
Para todo e qualquer lado
E outra de parares
Relembrando os amores da tua vida
Que se caracterizaram
Pela mesma dicotomia
Pela mesma inconstância
Pelo menos aqueles amores
Que tu amaste Mais
E olhas com olhos de ver notando que o tal tempo de facto passou
Olhas metaforicamente para o local onde tudo começou
E reparas que
Há lodo no cais…