Há lodo no cais…(?)

Porque dizes mil e uma vezes

Jamais

Prometes o que tens que prometer

Num dado momento

Em que julgas nada teres a perder

E quando reparas em tudo o que ficou para trás

Tudo o que deixas-te de fazer

Ou fizeste bem demais

Reparas que

Há lodo no cais…

E tropeças novamente na tentação

De querer tocar

Sem que em tal advenha

Qualquer tipo de condenação…

Uma espécie de penalização

Por quereres viver ao mesmo tempo no ar

Bem longe de tudo e de todos

E ao mesmo tempo no chão

Onde tudo se passa

Se calhar demasiado

E nesta dualidade

Não te espantas pela cisão

E ficas espantado sim

Por teres gente a teu lado…

Acendendo um cigarro trivial

Numa banal reflexão

Num invulgar momento de paragem

Num quase inédito momento de contemplação

Deixas que o cigarro se apague

Que a inquietação tome conta de ti

Uma vontade irreprimível de continuar

Para todo e qualquer lado

E outra de parares

Relembrando os amores da tua vida

Que se caracterizaram

Pela mesma dicotomia

Pela mesma inconstância

Pelo menos aqueles amores

Que tu amaste Mais

E olhas com olhos de ver notando que o tal tempo de facto passou

Olhas metaforicamente para o local onde tudo começou

E reparas que

Há lodo no cais…

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 22/07/2011
Código do texto: T3112120
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