À Superfície de uma certa Profundidade…
Julgámo-nos imortais
Na nossa suprema maldição
De corpos amontoarem-se uns a seguir aos outros
Não numa contagem de morte
Mas numa de uma espécie de estranho amor
Onde corpos avulso substituem o indicado
Se é que há um indicado
E desta forma sublimam uma espécie silenciosa de dor…
E assim bebemos
E assim viajamos
Até se acabar a estrada
Até se acabar o sentido
De beber e viajar
Duas asneiras se calhar demasiado grandes
Não éticas
Não morais
Apenas sensoriais
Porque não é uma solução lógica
E definitiva
De beber e viajar
Para esquecer
Em vez de parar
E pensar
Ou parar de pensar
Para curar essa ferida…
Fazendo a noite perpétua
Da insónia um estado de alma
Do vaguear por locais que me são desconhecidos
Falar com quem nunca falaria
Pisar o risco
Correr uma série de perigos…
Fazendo má cara ao sol
A uma espécie de sobriedade
Beber um café
Para adquirir
Uma perdida lucidez
Mas o carro lá está
A estrada chama teimosamente por mim
Tenho contas para fazer
A andar muito depressa
Em vez de estar parado
Tendo medo
Um medo terrível desse estado
Porque ele de facto me fará pensar
Me fará ver
Como de facto o tempo está a passar
Obrigando-me a uma venenosa contabilidade
Onde reparo nos tais corpos que deixei para trás
Despojos de um dia
De demasiados dias
Que resumi numa frase feita
ao mesmo tempo doce e amarga:
“À Superfície de uma certa Profundidade…”