À Superfície de uma certa Profundidade…

Julgámo-nos imortais

Na nossa suprema maldição

De corpos amontoarem-se uns a seguir aos outros

Não numa contagem de morte

Mas numa de uma espécie de estranho amor

Onde corpos avulso substituem o indicado

Se é que há um indicado

E desta forma sublimam uma espécie silenciosa de dor…

E assim bebemos

E assim viajamos

Até se acabar a estrada

Até se acabar o sentido

De beber e viajar

Duas asneiras se calhar demasiado grandes

Não éticas

Não morais

Apenas sensoriais

Porque não é uma solução lógica

E definitiva

De beber e viajar

Para esquecer

Em vez de parar

E pensar

Ou parar de pensar

Para curar essa ferida…

Fazendo a noite perpétua

Da insónia um estado de alma

Do vaguear por locais que me são desconhecidos

Falar com quem nunca falaria

Pisar o risco

Correr uma série de perigos…

Fazendo má cara ao sol

A uma espécie de sobriedade

Beber um café

Para adquirir

Uma perdida lucidez

Mas o carro lá está

A estrada chama teimosamente por mim

Tenho contas para fazer

A andar muito depressa

Em vez de estar parado

Tendo medo

Um medo terrível desse estado

Porque ele de facto me fará pensar

Me fará ver

Como de facto o tempo está a passar

Obrigando-me a uma venenosa contabilidade

Onde reparo nos tais corpos que deixei para trás

Despojos de um dia

De demasiados dias

Que resumi numa frase feita

ao mesmo tempo doce e amarga:

“À Superfície de uma certa Profundidade…”

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 22/07/2011
Código do texto: T3110802
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