Prefiro o anoitecer...
Quando a chuva de pérolas coincide com o entardecer
brilham no horizonte ausências e distâncias...
É a hora em que não se distingue,
entre as sombras, o Bem mais almejado...
É a hora em que a Saudade cresce
e uma lembraça, a alma enternece...
Mas não são todos os olhos que vêm isto assim:
há os que vêm apenas o anteceder da noite
e, se a lua rebrilha, muito nua e afoite,
é apenas o satélite da Terra...
É preciso ter olhos para ver
que o encantamento se faz...
É preciso falar baixinho
e beijar suavemente...
Talvez cantarolar...
Magicas pérolas, nascidas de tais olhos,
- olhos que sabem ver! -
sofrem como a ostra, a dor de as criar;
vêm mais além do que o horizonte:
Vêem com clareza e lucidez profunda
as curvas do caminho dificultando a Estrada
e qual é o momento de caminhar
e de se recolher...
(Não por covardia, mas por ousadia
de saber Renunciar...) E a Vida recriar
apesar de todos os enganos
vindos de quem em mais se confiou e pôde Amar.
Surgem estrelas: são lágrimas no céu...
e a Terra se cobre com o denso Véu
da noite... Silêncio faz-se ouvir.
Só a coruja pia em seu sinistro som
como agourando amantes: sonhos terminados,
que não vão nunca mais voltar...
Nos pântanos, os sapos fazem sinfonia
e abafam os sons do choro de cristal
com suas canções, próprias do lamaçal,
onde imperam fortes no Poder das Trevas...
Mas o coração de quem tem olhos para ver
ainda vê as flores
cultivadas pelos lavradores
que fazem profundos sulcos em um coração...
(Talvez girassóis...)
A noite é longa e aqui no sul
é tão gelada...
Mas num tardio momento vai-se a noite
e o dia se faz...
Recompor o rosto é obrigatório.
A Vida anda no dia que já vem.
O sol aparece do outro lado
oposto ao sonhos de amor, desfeitos, muito além...
As pérolas desaparecem
e os sons da Vida fazem-se ouvir.
Os olhos dóem ante a luz dourada
e se escondem sob óculos escuros.
A boca sorri; os olhos não...
A palavra é branda: não sai nenhum queixume,
e, transpassado, o coração finge bater.
É assim a Vida.
A Vida é viver...