SAUDADES DE TI DIANTE DE TI

Saudades de ti diante de ti

eu a olhar-te de leve

meu olhar sobre ti asas

a roçarem folhas, de passagem,

sem pouso permitido

asas a perderem o rumo

asas a perderem o prumo

asas num voo vertigem

direto ao chão.

Saudades de ti diante de ti

eu a receber e a guardar

olhares de todos os cantos

canto chão

cantochão

no tempo sempre a escoar

sempre em fuga de nós

e do nosso outro tempo

aquele eterno, imóvel,

que nos cravou no mostruário

as asas de borboleta

para sempre em oculta exposição.

Saudades de ti diante de ti

esta história, nossa história

suspensa nos galhos da árvore

a perder de vista

a tocar o céu

no bico das aves

sempre a partir

nossa história

que não podemos tocar

a cintilar provisória

nos olhos destas pessoas

que também nunca a conhecerão.

Saudades de ti diante de ti

e em breve, muito em breve

nós, a circular em fotos

diante do mundo

e enquanto estas não nos chegam

volto para a casa

onde minha mãe me habita

onde não me habito há mundos

e vou-me, a ler teu livro

que não nos conta, mas nos diz

nos desdizendo

assim, nesta Dor que nos corrói,

para sempre, assassinando.

Saudades de ti

e eu me dissipo

como se dissipam

ventos...

nas mãos

nossos fiapos...

Terminado este poema às 9 horas e 15 minutos da manhã de 17 de julho de 2011,na capital de São Paulo, Brasil.