Palavras 0414 - Minha casa, minha saudade

Era uma casa na beira de um caminho,

as paredes sem tinta, não tinha nada,

do teto vazava lua que caia pra agredir,

no chão os rastros da criança pequena,

minha foto no prego atrás da porta de sair.

Era um mar de quintal no quintal do fundo,

com árvores de pêras a nadar sem parar,

fazendo tentação aos olhos dos passantes

que de pronto atentavam a roubar.

E nas ruas caminhavam os meninos

com pés descalço avermelhado,

como tivessem bocas pra alimentar

mas a terra é quem engolia calado.

Era uma casa no meio do nada

nas minhas poucas memórias,

que um dia voltei só pra olhar,

mas os sonhos não se repetem,

não adianta o querer pra enganar.

Às vezes plantamos nas lembranças

como a casa que nunca aconteceu

e as paredes nada sabem contar,

o mar é areia, de tanto o vento soprar

separou da terra vermelha

e foi logo assim pro meu sonho acabar.

Era uma casa na beira da minha saudade,

as paredes sem tinta, não tinha nada,

no teto a lua ia e voltava sem querer ficar,

no chão marquei meus rastros de tristeza,

quando na foto não tinha mãe a me esperar.

15/07/2011