Ciclos

Como eu sofri na minha forma anterior

De passarinho que voava flor em flor

E, então, adoeço quando por vezes me lembro

Das tantas Flores que eu beijei desde setembro

Até chegar o mês da festa carnaval

Em que as roubavam pra transformar nos colares

Que delicados enfeitavam a forma humana

Flores morridas pra atrairem os amares

Daquelas lindas...fantasiosas havaianas.

Que ao fim do baile suavam mil pás de cal

E eu pousado no galho de um pé de figos

Mirava triste os corpos dos meus Amigos

Como se lixo quando do baile o final

Ali caídos no salão e no asfalto

Em meio a cacos de garrafa e algum salto

Que revoltou-se pela carga que levava:

Um morenaço com peitos siliconados

Nariz perfeito revestido de platina

Para poder numa bandeja de aço inox

Cheirar a velha e sentir-se uma menina

E esquecer do que seria sem botox...

Então, depois, porque tudo se termina

Eu recolhia o que a vassoura não levara

Pra construir em meio ao tufo de taquara

Um novo ninho de barro e serpentina

Com a porta aberta para o rumo das papoulas

E a cobertura com telhas de lantejoulas

Me protegiam , porque os meus predadores

Ao verem o ninho pensavam que era um pavão

E era ali que eu, beija-flor, ficava à espera

Eu passarinho disfarçado de quimera

Me aquecendo e preparando o coração

Para entregar na entrada da primavera

Os meus brotantes Amores

Que morrem sempre assassinados pela fera

Do frio humano, gelado, da incompreensão

Que descomeça

E queima toda promessa

A vassouraços

Antes do fim do verão...

Aldo Urruth
Enviado por Aldo Urruth em 13/07/2011
Reeditado em 04/05/2015
Código do texto: T3093132
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