Ciclos
Como eu sofri na minha forma anterior
De passarinho que voava flor em flor
E, então, adoeço quando por vezes me lembro
Das tantas Flores que eu beijei desde setembro
Até chegar o mês da festa carnaval
Em que as roubavam pra transformar nos colares
Que delicados enfeitavam a forma humana
Flores morridas pra atrairem os amares
Daquelas lindas...fantasiosas havaianas.
Que ao fim do baile suavam mil pás de cal
E eu pousado no galho de um pé de figos
Mirava triste os corpos dos meus Amigos
Como se lixo quando do baile o final
Ali caídos no salão e no asfalto
Em meio a cacos de garrafa e algum salto
Que revoltou-se pela carga que levava:
Um morenaço com peitos siliconados
Nariz perfeito revestido de platina
Para poder numa bandeja de aço inox
Cheirar a velha e sentir-se uma menina
E esquecer do que seria sem botox...
Então, depois, porque tudo se termina
Eu recolhia o que a vassoura não levara
Pra construir em meio ao tufo de taquara
Um novo ninho de barro e serpentina
Com a porta aberta para o rumo das papoulas
E a cobertura com telhas de lantejoulas
Me protegiam , porque os meus predadores
Ao verem o ninho pensavam que era um pavão
E era ali que eu, beija-flor, ficava à espera
Eu passarinho disfarçado de quimera
Me aquecendo e preparando o coração
Para entregar na entrada da primavera
Os meus brotantes Amores
Que morrem sempre assassinados pela fera
Do frio humano, gelado, da incompreensão
Que descomeça
E queima toda promessa
A vassouraços
Antes do fim do verão...