FISIOLOGIA DO PERDÃO
te perdoei
quando riu de mim rasgadamente
esmagando meu coração inocente
sob a imagem do sorriso
e a melodia da voz;
perfumou as doces palavras
que fizeram cacos os meus segredos...
- os deuses a coroaram de sabedoria
para conhecer pensamentos -
e desnudaram meu corpo divino...
no rosto, o lume da vergonha.
te perdoei
quando teus olhos noturnos
assistiram a imersão do eu
no mar dessa incerteza sem vida
mostrando o aço do riso
numa liberdade assistida...
te perdoei
quando levianamente
algemaste a força das minhas mãos
ao chão do cárcere; tu, estrela...
com desejo expôs as vísceras ferventes
da minha alma de criança
aos marmóreos tormentos da razão.
perdoei também quando
deixaste-me sucumbir
na eutanásia de um beijo teu...
te perdoei
como ainda hoje te perdôo
quando nada achaste de ti em mim;
e, mesmo criando imagens
nunca me pudeste traduzir...
te dei meu especial perdão
quando fragilizada pelo sonho
te recusaste sonhar o meu...
mas meu pequeno vôo
foi signífico e popular.
te perdoei
quando deixaste meu ego abandonado
no casulo de uma solidão
mesmo ciente de minha qualidade de abôrto...
em tua grandeza irreverente
meu beijo indócil revelou, me cuspiu o amargor...
perdendo-me nos descaminhos da noite
em tua órbita incognoscível
o curso do meu olhar...
anjo de mim de asas aparadas
escravo sou teu, algemado
ao tronco, teu corpo;
forjado em tua senzala...
te perdôo sempre
santa da espada guerreira
por não permitires tua carne queimar
no fogo do amor que arde em mim.