FISIOLOGIA DO PERDÃO

te perdoei

quando riu de mim rasgadamente

esmagando meu coração inocente

sob a imagem do sorriso

e a melodia da voz;

perfumou as doces palavras

que fizeram cacos os meus segredos...

- os deuses a coroaram de sabedoria

para conhecer pensamentos -

e desnudaram meu corpo divino...

no rosto, o lume da vergonha.

te perdoei

quando teus olhos noturnos

assistiram a imersão do eu

no mar dessa incerteza sem vida

mostrando o aço do riso

numa liberdade assistida...

te perdoei

quando levianamente

algemaste a força das minhas mãos

ao chão do cárcere; tu, estrela...

com desejo expôs as vísceras ferventes

da minha alma de criança

aos marmóreos tormentos da razão.

perdoei também quando

deixaste-me sucumbir

na eutanásia de um beijo teu...

te perdoei

como ainda hoje te perdôo

quando nada achaste de ti em mim;

e, mesmo criando imagens

nunca me pudeste traduzir...

te dei meu especial perdão

quando fragilizada pelo sonho

te recusaste sonhar o meu...

mas meu pequeno vôo

foi signífico e popular.

te perdoei

quando deixaste meu ego abandonado

no casulo de uma solidão

mesmo ciente de minha qualidade de abôrto...

em tua grandeza irreverente

meu beijo indócil revelou, me cuspiu o amargor...

perdendo-me nos descaminhos da noite

em tua órbita incognoscível

o curso do meu olhar...

anjo de mim de asas aparadas

escravo sou teu, algemado

ao tronco, teu corpo;

forjado em tua senzala...

te perdôo sempre

santa da espada guerreira

por não permitires tua carne queimar

no fogo do amor que arde em mim.

Rocha Poema
Enviado por Rocha Poema em 13/07/2011
Código do texto: T3093043
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