Percursos

Só quem vive, sofre.

Que solidão dói mais

do que aquela que

construimos?

Ela é forte, as bases são de concreto.Aço.

Inatíngivel no processo de desconstruir.

Olho pelo espelho do carro e

vejo olhares, fisionomias, caras e bocas.Intenções.

Meu olhar fixa, então, no percurso que tenho à frente.

Pouco sei dele, mas parece que vai doer.

Pode ter sangue, gemido, choro.Mas já sei, vai doer!

Tento me consolar.Sufoco meu grito de medo. Prendo.

As ruas correm, as avenidas ficam curtas, pequenas até.

Acelerar pode ser pior.

Desejo chegar logo,sofrer menos, assumir.

Quero sepultar o caminho que atrás ficou,

Se correr penso que será melhor, então acelero.

A luz vermelha acendeu.Tenho que parar.

Trinta segundos é a demora que gera imagens, sonhos desfeitos.

Meu corpo paraliza, esfria,

a respiração falha,aumenta, falha, aumenta.

Trinta segundos eternos.

Apareceu o verde vida, corro dos pensamentos.

Fujo de mim.

Primeira, segunda, terceira, quarta.

Meu carro tem quinta?

Não sei, só você o conhece.Mas pra quê?

O asfalto acabou.

Acabou como começou :

Na terra.