AMOR CRUCIFICADO
Moureja meu corpo em tropeço
Nuvens ministros do ar
Ínvios pensamentos dispersos
Tarde sombria vai declinando
Orvalho antes da aurora
Estou murchando como relva sedenta
Carente estou nesta selva de meu eu
Como ramos flamejantes
Que desmaiam sob o manto solar
Sedento como astro errante
Sem minha estrela polar
Não há desapego da carne
Quando sou eu a caça
É como salgar-me por dentro
De sal e sol vou rachando na couraça
És a candeia de minha escuridão
Entro na gruta como ermitão e hiberno
Ouço minhas barbas crescendo
Esfoliando meu rosto sem a flor do campo
Estou largado como fumaça dissipada
Sem pouso sem acento
Como areia no deserto onde é nulo o seu movimento
Nada eu te dava de valor
Nem conheço mais o meu lugar
Sou que nem o pó de tua maquiagem
Já não me vês...
Como crucificado na minha paixão
Minha agonia começa depois das três...