Desesperança
Não sinto o sabor do fruto
Que desmancha em minha boca.
Nem sinto a língua
Que beija a Terra querendo fertiliza-la.
Só sinto saudades da paz
Que morreu com o dia
Desenhando no horizonte
A tênue de um pôr-do-sol.
Vejo ruínas escondendo os corpos
Depois do terremoto
E vultos correndo aos guetos
A procura de abrigo.
Sinto o cheiro do mundo
Invadindo olhares
Como se tivesse alma,
Viajo entre asas
Sem sentir a liberdade,
Indo pela contramão,
Como um anjo manco
Remendando o vazado
Transplantado no peito.