MEDO

Grato me é o tema do Medo

este importuno que nos chega sempre

sem que o tenhamos chamado

este às vezes sem rosto

e, outras muitas, com o semblante

de tudo de que fugimos.

Ai, Medo, companheiro das horas más.

Ai, Medo, das horas boas também

que em todas te insinuas

para toldar-nos certezas, estas coisas precárias.

Ai, Medo dos Sertões em nós.

Ai, Medo, dos Desertos em nós.

Ai, Medo com a cara

de todas as Solidões.

Medo, tu me tens acompanhado

com a fidelidade de um cão

ao longo de tantos caminhos...

Às vezes cheguei mesmo a amar-te

como a um amante bem-vindo

e outras vezes exortei-te

para que me abandonasses

sem caminho de retorno.

Contigo tenho seguido

como posso, como consigo

por Terras férteis de mim

por Terras amargas, também

por Águas doces e amargas

pelo Amor, cuja paisagem

te afasta, Medo, te mantém longe

ainda que provisoriamente

por causa da Paz que, às vezes,

o Vero Amor costuma trazer

nas asas, quando a voar

e só quando a voar.

Republicação no início da madrugada de 01 de julho de 2011.