CINDERELA REVISITADA & MAIS

CINDERELA REVISITADA

Nem te esperava ver. E então, vieste:

ouviste a música e assim, talvez, quiseste

que retornassem os dias do passado.

Pois mal te vi, somente de passagem:

algo secou em mim, numa estiagem,

qual nunca senti antes, a teu lado.

E ao te ver de novo, algo faltava:

o brilho se escoara e nem cantava

mais o som de tua voz ao meu ouvido.

Pois diminuíste, teu rosto apenas sinto,

como um rosto qualquer. Nem sequer minto

que possa recordar algum sentido

Naquilo que já foste para mim...

Te vi vazia... E, ao te rever assim,

não eras mais que o invólucro do sonho

Que existiu só em mim. Sonho perfeito,

que devaneei, em meu pleno direito,

e que fora do peito agora eu ponho.

Eu já te disse: queria ter saudade,

e nada sinto. Desfeita é a ansiedade

que me fazia moldar tanta emoção.

E agora te percebo qual reflexo

daquele amor que nunca teve amplexo

e gotejou total do coração.

HORÓSCOPO CIGANO V

A RODA

A Roda, que conduz pela emoção,

Representa o ir e vir e a própria Lua

Simboliza, por ter conformação

Arredondada; e a vida até cultua...

Com as mulheres tem forte ligação

Quem nasce a vinte e um de junho e continua

Até vinte e um de julho; e a gestação

Também se liga a essa forma nua,

Pois move a vida, em tristeza e na alegria;

É dócil e tranqüila, mas se irrita

Profundamente, quando ofensa avista;

É um pouco insegura e, em nostalgia,

Para o próximo signo te concita:

A Estrela, para aquele que é otimista.

GOTAS DE ÂMBAR

Não me cabe dizer assim que a amo,

porque o que sinto por ela é mais estético.

É como arquetipasse no poético

tanger de seu andar o que reclamo,

para a meiga inspiração, em que me exclamo,

na tessitura de um ideal ascético:

Amor sem carne, totalmente asséptico...

E é para tal ardor que me conclamo...

Que me sirvam de facho seus encantos;

Que me iluminem a senda trepidante

e me permitam alçar-me a novo céu.

Porque, por ela, só anseio nos meus cantos.

Prefiro mesmo tê-la bem distante,

Que ser forçado a retirar-lhe o véu...

HORÓSCOPO CIGANO VI

A ESTRELA

A Estrela, para aquele que é otimista,

Possui seis pontas, triângulos iguais,

Sua influência assim se exerce mais

De vinte e dois de julho, numa lista

Que chega até o vinte e dois de agosto.

Representa sucesso e evolução,

Possui um "alto astral", cintilação,

Vive a vida intensamente e sem desgosto.

Atrai os outros pelo seu talento:

Rodeia-se de amigos, sabe que

Conseguirá o que quer seu coração...

Triunfará nas artes, num momento...

Já bem outro é o seguinte. Isso porque

O Sino orienta para a administração.

HORÓSCOPO CIGANO VII

O SINO

O Sino orienta para a administração:

Era relógio, nos séculos passados.

De vinte e três de agosto, governados

A vinte e dois de setembro, todos são.

Representa também a exatidão,

Pois este é o signo dos organizados,

Dos ambiciosos, sempre superados

Em suas expectativas. A perfeição

Os caracteriza; e querem ter a vida

Usufruindo sempre, porém com consciência.

Inteligente, disciplinado e analista,

Quem rege o Sino à pontualidade obriga.

E, embora tenha grande inteligência,

Logo a Moeda as atenções conquista.

EXFLUXO

Enfim, ela partiu: levou-me a aurora,

o sonho, a paz... Consigo foi embora

todo o melhor de mim, até o ingente

desejo de escrever o verso ardente.

Que agora estiolesce, em verso impuro,

que tenho de pensar. Não brota ao furo

de meu coração: brota da mente,

que se esforça em manter inda freqüente

a pálida corrente destes versos,

que foram turbilhão, meses atrás...

E são agora apenas o mordaz

folhear desiludido dos diversos

momentos, em que guardo na lembrança

a flama gélida da desesperança...

HORÓSCOPO CIGANO VIII

A MOEDA

Logo a Moeda as atenções conquista,

Associada ao equilíbrio e à justiça.

O ouro físico e o espiritual cobiça,

Para ajudar os outros: é altruísta.

De setembro vinte e três rege os nascidos,

Até vinte e dois de outubro: são sensíveis

Os que domina aqui: sempre passíveis

De uma nova paixão. Compadecidos

Dos que deles precisam. São charmosos,

Artísticos, delicados, amorosos;

Seus amigos os buscam, sem nem saber o que

Foi que os atraiu, em cordial convivência.

Já o próximo é severo. Isso porque

A Adaga nos encerra a adolescência.

FAÚLHAS

Dizem que amor desbota, quando a posse

a esperança esgota --- que era a espera,

que tanto imaginava sutil fosse

o prazer que seu beijo então me dera...

E que esse beijo, enfim, ao ser negado,

melhor servisse ao palpitar do sonho

que um beijo no passado já gozado,

cujo sabor recordo e já me exponho...

Não é assim comigo. É a posse mesma

que me entusiasma mais. Esse jamais

apenas me revoga e nega o ardor...

Enquanto esse teu beijo me ensimesma

e me faz rebrilhar sonhos vitais,

manifestados em novo resplendor...

BILROS

Não esperes de mim que fale apenas

do que houve entre nós... Antes diria

que é melhor esquecer a nossa orgia

e mencionar tão somente as açucenas...

que nos rodearam no campo dos amores,

o sol nas costas de um e, contra a relva,

as costas da outra, nesse amor de selva,

de mescla pura de suores e de odores...

que nos tornaram um, em sentimento,

mais do que um em carne devorante,

mais do que um, em mente e diapasão...

Falar eu não irei de tal momento,

mas do que houve, antes desse instante,

em que fundiste ao meu teu coração...

BASÍLICA

Sempre um prazer me dás... Ao menos esse

de fazer algo por ti, sentir-me útil,

percebendo que amor não é tão inconsútil

tessitura de sonho, que a gente mal conhece.

Fazer algo por ti me soa como prece,

dá-me sentido à vida, de resto tão inútil.

Por mais que teu amor me seja um sonho fútil,

ainda permaneço e quero recomece

a mesma polvadeira de estrelas e de aurora,

que me banhou um dia, em farpas de ilusão,

meu coração pavio ardendo lentamente.

Por mais que tua ausência persista em tal demora,

era tão bom o sonho, bordado de emoção,

que não me importa o sangue me escorra finalmente.

MAJÓLICA

Cada vez que te vejo, mulher, é tal como se o mundo

se fechasse completo e me deixasse fora.

Pois mostras-me um instante e, então, te vais embora

e eu fico a me esbater nesse jamais profundo...

Pois sabes que és minha vida e apenas tua visão

me consola do tédio, da mágoa e do estridor

de tantas insistências, da pena e do amargor

que me estilhaça a alma e esfrega o coração.

Queria até dizer-te: não chegues mais. Por certo,

eu me encanto de ti e em ti me maravilho,

teu rosto e teu perfume são quanto mais desejo.

Mas quando já te foste, se não te sinto perto,

de todo o meu controle assim me descarrilho

E o sangue coagula, na ausência do teu beijo.

NECRÓPOLE

Ela é minha vida, é certo: quantos dias

permaneci solerte, nada querendo, inerme,

fugindo até de mim, este inefável verme

despido de paixões, nas vastidões vazias

das tarefas inúteis, que tanto me perseguem...

Satisfeito em comer, dormir, escutar música,

qual animal, enfim, longe da esfúsica

verberação, que as ilusões me entreguem...

E então ela me chega, sua voz me enche a alma...

Eu volto à vida, sofro, ofego, sou humano

e os minutos se escoam de novo na ampulheta...

E lá se vai o tédio que me velava a calma

e me endorfina o peito, reajo ao novo dano,

que de entusiasmo o corpo e a mente me completa.

William Lagos
Enviado por William Lagos em 30/06/2011
Código do texto: T3065682
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