Taça-Carta de Adeus
Apenas um único adeus em beijo
De batom nascido só para o desejo
Na borda sonora de cristal da taça
Acessório enfeite do Amor indez
Que ficou grávida de apenas três
Quartos do vinho verde temporão
Na penteadeira populosa em cheiros
Aprisionados que vieram de França
O peignoir, pele anunciadora e primeira
Dos brinquedos de amor e de dança
Quedou vazio, sem forma, murcho e pálido.
Embolado trapo na guarda da cadeira.
O abajur velou o corpo esquálido
Burlado no sono, sem sonho, inválido.
Grudado ao lençol pela própria semente
Da safra de grãos da impossível gente
Tão grande o desgosto não foi trabalhar
Sentiu-se no nada, enfraquecido e doente
Quando, à meia taça do dia a esvaziar
Não encontrando a sinuosa serpente
Beijou os lábios de batom impressos
E sorveu de um gole os restantes quartos
Quebrou a taça atrás de si, um grego
Estilhaçando o seu traído apego
Àquele Amor de mil enganos fartos.