Prosinha de Poeta
A poesia caminha de dentro
Como uma alma de partida...
Em olhos, feito brilho, entro,
Visto a calma a quem precisa!
Deito a brisa em teus lábios,
Dum'alma beijo o avesso...
Nas palmas corro em linhas,
Nas veias durmo em berço!
Queimo na luz da tua vela,
Longos versos como prece,
As palavras num peito aquece
Enquanto um poeta anoitece!
Canto versos de cordel,
Penduro na lua um lampião,
Apago a lamparina que lumia o céu,
Pra mó de caça calangos no sertão!
Posso encarnar um repente
Pra cantar teus versos tristes:
"Vem meu povo, pode vir, se aprochegue,
Padim Padi Ciço, aqui, se assente!
Esse é um causo de amor,
Dum amor não correspondido...
No cangaço véve a frô,
Nas nuvens véve um anjo...
Esse anjo fez arranjos,
Pra mó de encantar a bela frô,
Mas a frô com o anjo, nada queria
E se o anjo descobrisse,
Choraria mais de três dias...
Então o céu, uma nuvem cobriria
E a frô com tanta água afogaria!"