O amor de João Cabral de Melo Neto

O amor era um sábio em anatomia

Primeiro comeu os meus olhos

Depois meus ouvidos

Comeu minha boca, por fim

O amor comeu meus cinco sentidos.

Não satisfeito, o amor devorou minhas mãos

– eu não pude lutar

Devorou os meus pés

– e eu não pude correr

Devorou o meu cérebro, meu sangue, meu DNA!

O amor é um sábio em anatomia!

O amor… ah!, o amor comeu o meu corpo todo!

Comeu!

Devorou!

Engoliu!

Depois o amor me comeu, digeriu...

E depois o amor morreu.