CAUSA PRIMÁRIA
Na ilusão de fazer com que o nosso
tempo fosse de duração indefinida, igual
as coisas boas que a vida conserva,
tomei-te nos braços da mesma forma como
toma-se uma rosa.
Aventurei-me escolher uma trilha suave
onde houvesse muitas flores arraigadas,
para que o perfume delas nos envolvesse
como se estivéssemos em um jardim.
Cuidei para que todas as flores encontradas
não fossem despetaladas ao longo do
caminho, para que a fragrância de todas
continuasse a nos cingir com seus perfumes.
Repentinamente, aqueles cheiros agradáveis e
penetrantes aos poucos foram desaparecendo,
e o espelho da existência passou a refletir flores
sem vida e ao redor de nós, somente o vento
selvagem destruindo o que planejamos construir.
A beleza dos aromas naturais e singelos que
sentíamos revelou que o nosso intento foi fugaz,
não houve tempo sequer para que o nosso desapego
fosse corrigido.
E assim, cada uma das peças que constituem a corola
das flores, foram impiedosamente extirpadas e ressequidas e
depois de sermos julgados, fomos considerados os
culpados razão das medidas impostas pelo destino.
Nada mais existe se não o registro de uma causa primária!