dia décimo-sétimo

estava percorrendo os arquivos

ele tem sido bonzinho

esse PC, meu amigo

não tem dado tilt ou pane

não quer que eu me dane

e aí, com o que me deparei?

muitos dos meus poemas

tinham apenas um tema

aquele lugar comum

senti-me um pouco perdido

quem sabe subnutrido

pela falta de idéias

pois como era fácil notá-la

em todos os meus escritos

senti-me até avechado

amuado ou mesmo esquisito

por não conseguir me livrar

da sua figura, seu riso

seus longos cabelos dourados

seus desconhecidos afagos

que eu bem sabia reais

seu jeito de travar o “r”

seu linguajar doce e meigo

me telefona “em” casa

e não telefona “pra” casa

suas aulas na faculdade

suas tarefas de casa

sua responsabilidade

pra não falar na sua cria

que isso já é covardia

por ser a imensa alegria

difícil de se traduzir

eu quero aqui me omitir

ou omitir isso tudo

o que passou foi um dilúvio

tal como a onda gigante

que deixou tudo distante

mas fertilizou o terreno

que seja isso, ao menos

Rio, 17/11/2006