NOSSA FOTO

Na foto

as cabeças unidas

o luar doce

dos teus cabelos

a roçar os meus

nossos olhos

a entremostrar a história

que não foi

que não é

jamais será

não foi

não é

não será

esta história

que me vibra no sangue

talvez ainda no teu

e brilha quase oculta

quase transparente

nas faces unidas

na foto

como se fora

a imagem guardada

no sacrário

nos pulsares de mim

talvez

nos pulsares de ti.

Tu me ocultas

tu me negas

em cada segundo dos dias

em cada segundo

dos sempre

dias-limite.

Tu me negas

tu me ocultas

no horto

no sangue

no brotar das pétalas

da nossa oculta flor.

Nossa foto

a revelar

a velar

a respiração subterrânea

da mesma de sempre dor.

Para além do esquecimento

para além do fim

absoluto, irremediável

que a todo instante me juras

nossa foto

a calar

no meu semi sorriso

na tua semi alegria

o tempo que nos deserta

o tempo que nos pertence

malgrado nós mesmos

para sempre.

Para sempre.

São Paulo, 18 de setembro de 2009.

Republicado, com algumas modificações, na manhã de 18 de junho de 2011.