DERRADEIRO AMOR

DERRADEIRO AMOR 

                                 “é preciso festejar o que existe e não chorar aquiIo que já feneceu”.

Tu carregas o perfume das mais belas flores que colhi
nos jardins da longínqua aurora da minha infância
e o teu olhar relembra os mais brilhantes voos dos colibris
que hipnotizavam-me em meus sonhos de criança.
Tu trazes a mim o mais puro sabor dos sabores pueris,
frutos tropicais a lembrarem o perfume de antigas esperanças.
Me remetes à paixão da primeira namorada
e a recordação de tempos vividos, envolvidos de inocência florida.
Tens a alegria da chegada e a compreensão da partida,
a beleza da maturidade, e a doçura da própria vida.
Como o amor primeiro, não tens a urgência, nem a inconsequência tão típicas da mocidade.
Próprio de quem é pioneiro, o amor primeiro retrata a volatilidade,
enquanto que este último é forte na essência
por isso mesmo sólido, concreto,
por isso mesmo, amor derradeiro, de verdade.
Nem se apresenta indolente, carente, urgente, inconsequente.
No primeiro amor fazíamos poemas à lua,
hoje , em amar definitivo, cantamos as belezas do universo.
No primeiro amor recitávamos folhetins,
agora, o amor maduro, fabrica seus próprios versos.
No antes, pra falar precisávamos da voz,
no hoje, quem fala são nossas almas, desnudas de tudo o que é nós.
Em vez da avassaladora atração de outros ventos,
há o gostar enraizado, com mais vagar, afável, singular - verdadeiro contentamento.
Sereno feito o orvalho da manhã, incolor,
diferentemente daquele incêndio de outrora,
o último vem, candidamente, em direção ao agora,
sossegado, plainando nas asas de um beija-flor,
a compor o poema da vida - verdadeira vida,
verdadeiro poema do VERDADEIRO AMOR.