AMOR EM RECLUSÃO

Voltei pra beijar-te a mão

Mas ao mirar-te de longe na porta de sua casa

No teu sorriso de entrega já havia outro anfitrião

Que tipo de amor é este que de outro se veste

Como de cor muda o camaleão

Que amor me destes

Se imediatamente pra outro te despes

Paixão indecorosa

E eu estúpido com um buquê de rosas

E agora na minha mão murcharam

E os espinhos cravejaram meu coração

Nunca mais te verei

Tantos anos confinado em tua pele

Em teus olhos que tantas lágrimas de amor beijei

As cantigas de tua boca serena

As conversas trocadas no final do dia

As cartas em forma de poesia

E agora como nuvens desfilam no meu pensamento

E passam indiferentes as minhas secas

Tivemos sim pequenas rusgas de casal

Mas nada mais que uma poeira animada pelo vento

Ciúmes leves como asas de borboletas diante da flor batendo

Os gemidos, os alaridos, que prisão é esta dor da perda

Perda sem motivo, perda sem passar no crivo o suspiro perdido

Ainda amo teu cheiro, teu gosto, teus olhos rasgados em cócegas

E agora a distancia é finita para o amor

O que fazer se não seguir a estrada do destino

Como cachorro que segue louco pela vida

Lamberei minhas feridas correndo o mundo

Que só possui teus olhos em tudo quanto é lugar que vou

Gastarei o tempo que o tempo me roubou

Arrastando as asas com a dor que me sobrou...

Mas a alegria que ainda me cativa

É a de pelo menos saber que ainda

Que nos braços de outro na porta de sua casa

Ainda estás divinamente viva...

Nada é mais aparente

Que a distancia presente

Faz da gente algo transparente...