DUAS MULHERES EM MIM
Uma está a partir
em cada segundo
migrante ave
sem pouso
a outra, árvore,
de funda raiz
no mesmo solo
há séculos.
Neste instante
ave
no seguinte
árvore
árvore
que te dá sombra
ave que te foge
e foge de si mesma
no mesmo fugidio instante
em que te chega
logo a partir
enquanto da outra
tremem, ao vento, as folhas
que lhe restam
na véspera do inverno
quando os galhos
cada vez mais desnudos
hirtos
adeuses
de um verde
progressivamente pálido
na tarde
a cair
como joelhos que se dobram
para rezar.
Às vezes
árvore-ave
coisa antônima
petrificada ave
sobre raízes
voltadas para o céu.
Quase no crepúsculo de 13 de junho de 2011.
Publicação ainda na manhã de 15 de junho de 2011.