MORRER DE AMOR

Ela queria morrer de amor
e ser enterrada na alma
de seu amado.
Ela queria tombar em combate,
o combate dos corpos
que se encontram
no encanto de uma madrugada.

Ela queria viver de amor,
de um verde amor profundo,
por seu amado.
E, quando ele chorasse,
ela queria estar ali,
ao seu lado, sombra
a lhe proteger.

Por algum tempo,
ela esperou.
O seu amor distava
de seu cotidiano.
Mas, ela cria,
ele chegaria a qualquer momento
e, corajosamente, galgaria
as escadas do medo
e a resgataria
da imensa solidão.

Mas o tempo não teve
uma mínima misericórdia.
E ela foi acordando,
o sonho se dissipando,
as luzes da razão luziram
sobre as sombras de seu quarto.

Ela abriu os olhos.
Morrer? Morrem os poetas.
E ela, o que era?
Tecelã, operária, guerreira,
muitas lutas por dia.
Morrer de amor
era coisa de poesia.

No entanto, quem não sonha
em morrer e viver de amor,
será que está vivo?

Às vezes, os olhos dela
se perdem nalgum outro olhar

e ela volta a respirar.