Eu não sei nada de sua vida, não sei das coisas que ocupam o seu dia nem o que se hospeda em sua noite. Desconheço o seu itinerário e embora isso represente um perigo eu me deixaria ser conduzindo por suas veredas e consentiria que o meu corpo descansasse sobre o seu.

O que escondem aqueles olhos? Por onde eles andaram? Por quem choraram?... Prefiro nem saber pra não mergulhar no líquido ácido dos ciúmes. Mas, não temos vida em comum? De modo que somos dois mistérios!

Será se gosta de comida japonesa? E se já desceu de tirolesa? Não há como saber... A não ser que eu descubra o seu código secreto e numa madrugada calada pelo sono eu chegue sorrateiramente, como um bandido discreto, experiente e invada os seus segredos. Aproveitando-me que tudo dorme eu possa assim, vasculhar a sua intimidade, olhando com os olhos da curiosidade as suas nuances na ânsia de encontrar pedacinhos de mim no seu memorial.

Temo ser surpreendido! Flagrado... Contudo, juro que serei um gentil prisioneiro tragado por seu amor.

Ilegal. Imoral. Clandestino... Mas, foi assim que chegou. E foi assim que me deixou... Tonto por um contentamento também clandestino.

Há de ser?...

Pra ter de volta aquele sorriso me juntaria aos cartéis mafiosos a fim de multiplicar os meus lucros emocionais e quem saber monopolizar os seus sentimentos. No meu descontrole arranharia toda a minha coleção de CDs originais. Deixaria que um bando de crianças hiperativas esfolasse os meus livros... Aqueles livros!

Faria uma campanha contra as canções de Chico Buarque. Pintaria de cinza a música Lilás de Djavan. Desbotaria o sol pra que o seu brilho sobressaísse e de quebra empenharia os anéis de Saturno como garantia do seu amor. Seria capaz de transformar o sonho de Ícaro em pesadelo só pra ter nossa história inigualável. Faria o absurdo de morrer só pra poder psicografar uma bela declaração de amor.

Pra ter a sua mão tocar a minha, por mais uma vez, iniciaria um jejum eterno pelas almas do purgatório (ainda que eu não acredite na existência desse lugar). Pixaria o muro do meu Corinthians, mesmo depois de uma vitória arrasadora. Contaria todo tipo de mentira, falaria que Camila Pitanga é uma baita baranga; que Brasília é a ante-sala da honestidade e que o Brasil é, verdadeiramente, de todos nós. Viveria uma vida de pobreza e simplicidade. Só pra ter a sua presença... Poluiria o meu ar de “bom moço”.

...Eu faria todo tipo de sacrifício! Quebraria pedras. Despencaria minha última vaquinha do precipício. Estudaria latim, grego e alemão num curso de férias. Rejeitaria de bom grado e devidamente documentado a toda sorte de bens materiais, pois sorte necessária é a do amor... E essa eu ainda não tenho!

Há de me pertencer?

 
 




Imagem - Fonte: reflexodeoutroseus.blogspot.com



Toni DeSouza
Enviado por Toni DeSouza em 12/06/2011
Reeditado em 06/05/2012
Código do texto: T3029961
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