As vezes não
O amor é uma coisa doce
Que amarga a vida
As vezes não
Que mais existe
Entre a pele e o sangue
Senão o destino inevitável
Sopro de ar morno no entardecer
Um gato a se espreguiçar na janela
O consciente que não sabe ser útil
Tudo para se evitar
Lembrar as últimas lágrimas de maio
Horrores e coisas mortas
Do começo ao fim
A mistura dentro da boca
Fumaça de cigarro e o hortelã da pasta de dente
Não há enganos ou divergências
Temos dez mil anos de fatos
Tapetes revirados na sala
Veio com o mar
Partiu com a noite
Cheirando perfumes e suores
O peito range
E os ossos estralam
Portas que não se abrem
O medo de sofrer
Fecha as mãos
Promessas quebradas
Vozes entoando
Cantorias de solidão
Páginas cheias de lacunas
O amor é uma coisa doce
Que amarga a vida
As vezes não