inveja

tenho inveja de mim

porque hoje não sei escrever

como te escrevia

meu palavreado é ruim

meu texto nem tangencia

o que ele pretende dizer

sinto em mim fenecer

o resto de alguma magia

que tento em vão resgatar

no intuito de te alegrar

como eu sempre fazia

quando sabia escrever

nunca pra mim escrever

foi uma febre ou mania

queria era que o coração

ficasse na obrigação

de não se omitir ou reter

aquilo que revelaria

e hoje até faço igual

ou penso que tento e consigo

mas sei que não sentes o mesmo

porque gostas mais de torresmo

do que daquilo que te digo

o que considero normal

pois sei que sou fruto maduro

perto de apodrecer

e ser comido pela terra

onde a vida se encerra

pra que depois volte mais puro

sabendo de novo escrever

Rio, 23/11/2006