A NAVE DO AMOR
Guida Linhares

E assim retorno a nave,
contente por estar seguro.
Não há nada que me trave,
só tenho medo do escuro.

Estranho o seu interior,
os outros onde estão?
Procuro pelo corredor,
e dou um tropeção.

Era uma mulher jovem,
de pele branca e macia,
uma terráquea caida,
no chão da nave vazia.

Me ajoelho e vejo logo,
quão belo é o seu rosto,
em lágrimas me afogo,
está morta, que desgosto!

Me vejo assim tão solitário,
nesta nave muito escura,
chega a noite, eu temerário,
das horas passadas obscuras.

Penso que toda a vida,
acabei sempre sózinho,
talvez uma sina revivida,
sem amor e sem carinho.

Mas eis que de repente,
vejo a mulher se levantar.
Meia tonta, se pressente,
que vai de novo desmaiar.

Eu a tomo em meus braços
de porcelana parece sua pele.
Os seus lábios puro carmim,
a um doce beijo me impelem.

Sinto uma doce ternura,
invadindo todo o meu ser,
penso então na ventura,
de se ter um bem querer.

Ela abre os olhos surpresa,
e vejo que são castanhos,
sente-se assim toda presa,
em meus encantos tamanhos.

Ofereço-lhe a única cama,
que sobrou naquele espaço,
ela me olha e logo reclama,
não cabemos neste pedaço.

Mas sou gentil cavalheiro,
e digo com generosidade,
este espaço é teu celeiro,
sou adepto da castidade!

Ela me olha por inteiro,
e até me sinto despido,
por seu olhar prisioneiro!
Preciso buscar outro abrigo.

Então ela estende os braços,
e diz:-estou apenas brincando,
vou me perder em teus laços,
com voce me massageando.

O sangue esquenta nas veias,
e perco o equilíbrio de tudo.
Dou-lhe o prazer a mancheias,
depois de ficarmos desnudos.

Nem sentimos a nave decolar,
estávamos a subir nas paredes,
o fogo da paixão a nos avassalar,
côncavos e convexos em rede!

E assim varamos a madrugada,
num movimento muito alucinante,
de múltiplas fantasias trocadas,
juntinhos como dois amantes!


Santos/SP/Brasil
26/11/06


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