AMOR À FLOR DA PELE

Tua pele de veludo

Nela me desnudo

Ou será que é ela que me veste

E de amor me reveste...

Quando me apareceste

Dividiu minha eternidade

Na poeira do caminho

Em alucinação dizia pra mim

Uma estrela caiu no meu ninho

Um serafim perdeu as asas no firmamento

Se perdendo dos pedaços do tempo

Mas não, uma procissão de círios

Meus olhos viram ao te olhar

Fitaram-me como um padre rezando diante do altar

Faiscaram como fogos explodindo

Em noites sem luar

Cortando a madrugada sem pássaros a cantar

Tudo neste momento parou

As velas, o vento, as ondas do mar

O respirar, o suspiro da flor

O sereno parou o sangue estancou

De repente o mundo sumiu

Tudo suspenso num segundo deste mirante

Eu te olhei e voei como um pirilampo

Que encontrara as jóias do paraíso encantado

Um sol morno e dourado adentrava em mim

Ressoando como dois hemisférios num só clarim

Atingiu-me em cheio a madrugada do meu coração, rasgado cetim

A mansidão deste olhar parecia à manjedoura do criador

Quanta luz, quanta simetria, quanto ardor

Quanta sedução olhos vivos de amor

Quando pela primeira vez eu te vi

Dançavam nos meus olhos uma oração cantada em cítaras

Pelo salmo de Davi

É como o orvalho de Hermom, que desce sobre os montes

De Sião ali ordena o senhor a sua benção e a vida para sempre...

E sempre me reparti em dois para sermos uma só benção

E dançamos muito exercitando os músculos

Os ósculos, os sentidos do olfato, da visão

Degustamos palavras em movimentos do coração

Criamos asas no crepúsculo

Viajamos nesta apoteose rumorejante de opúsculos

Viajando pelo mundo da imaginação

O que é a felicidade sem ela então?

Não podemos dar sapatos pra quem não tem pés...

E tampouco construir escadarias com corrimão

Para os que não têm mão...

O mundo imaginário é o brinquedo da sedução.

*Disponível em audio***