Parte de mim

Como a me constituir, faz parte de mim...

Em minha boca, é alimento a me saciar

Em meus olhos, é luz a me orientar

Em minha pele, é órgão a me proteger

Em meu corpo, é cálcio a me estruturar

Em meu sangue, é função a me manter

Em meu coração, é batimento a me reviver

Como a me caracterizar, faz parte de mim...

Em meus pensamentos, é julgamento me fazendo decidir

Em meus sentimentos, é emoção me fazendo experimentar

Em minhas sensações, é toque me fazendo detalhar

Em minha intuição, é apreensão me fazendo abstrair

Como a me habitar, faz parte de mim...

Em meu ser, é abrigo a se refugiar!

...

Toda esta noite o rouxinol chorou.

Gemeu, rezou, gritou perdidamente!

Alma de rouxinol, alma da gente,

Tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,

Que se fundiu na Dor, suavemente...

Talvez sejas a alma, a alma doente

D'alguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste... e eu chorei

Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei

Que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,

Que eu pensei que tu eras a minh'alma

Que chorasse perdida em tua voz!...

(Florbela Espanca)

Grata, Poeta Américo Paz por compartilhar em meu despretensioso poema, tamanho encantamento.

Suzete Palitos
Enviado por Suzete Palitos em 04/06/2011
Reeditado em 22/01/2014
Código do texto: T3014243
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