Parte de mim
Como a me constituir, faz parte de mim...
Em minha boca, é alimento a me saciar
Em meus olhos, é luz a me orientar
Em minha pele, é órgão a me proteger
Em meu corpo, é cálcio a me estruturar
Em meu sangue, é função a me manter
Em meu coração, é batimento a me reviver
Como a me caracterizar, faz parte de mim...
Em meus pensamentos, é julgamento me fazendo decidir
Em meus sentimentos, é emoção me fazendo experimentar
Em minhas sensações, é toque me fazendo detalhar
Em minha intuição, é apreensão me fazendo abstrair
Como a me habitar, faz parte de mim...
Em meu ser, é abrigo a se refugiar!
...
Toda esta noite o rouxinol chorou.
Gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma da gente,
Tu és, talvez, alguém que se finou!
Tu és, talvez, um sonho que passou,
Que se fundiu na Dor, suavemente...
Talvez sejas a alma, a alma doente
D'alguém que quis amar e nunca amou!
Toda a noite choraste... e eu chorei
Talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
Que ninguém é mais triste do que nós!
Contaste tanta coisa à noite calma,
Que eu pensei que tu eras a minh'alma
Que chorasse perdida em tua voz!...
(Florbela Espanca)
Grata, Poeta Américo Paz por compartilhar em meu despretensioso poema, tamanho encantamento.