O Glamour da Solidão

No inverno de 1936 nasce na Bahia Maria Martha Rocha, a eterna miss que hoje é uma moça com mais de 70 anos e que continua a ter sonhos porque quando paramos de sonhar descobrimos que já morremos em vida. Não existe um rosto nem um sorriso nesse mundo que por mais bonito que seja não esconda atrás dele uma dor , uma enorme dor ...

Criada por sua família na frieza do regime patriarcal

Ela era mais uma moça nesse mundo a acreditar que nascer livre é natural

Era inadimissível que uma menina saida do agreste sertão

Pudesse ter tanto carisma e poder nato de sedução

O pai severo proibia sonhos e qualquer sentimento de ilusão por amor

Mas ela acariciava os olhos e maltratava o coração dos homens

Sejam eles um matuto ou um renomado doutor

Com dezoito anos pisou pela primeira vez numa passarela

Sentiu medo e insegurança como qualquer cinderela

Mas seu sorriso franco mostrava ao mundo como a vida poderia ser bela

Com seus cabelos loiros e olhos azúis da cor do céu

Seria a referência de elegância daqui a 40 anos quando nasceria sua admiradora Raquel

Na barriga da minha mãe eu ainda não passava de uma sementinha feliz

Na placenta eu já aprendia a acenar dando no ultrassom um tchauzinho de miss

Não foi eleita miss mundo por míseras duas polegadas

Bobagem pois quem nasce iluminada nunca se torna rainha destronada

Em meio a fama e o dinheiro no fundo ela só queria ser feliz demais

Ter uma casa com filhos e ser amada de verdade por um bom rapaz

Pequenos sonhos que as vezes parecem distantes demais

Finalmente se casa com um tímido rapaz e conhece a paixão

Alguns anos depois de muito amor ele morre num acidente de avião

Ela se entristece mais ainda exala beleza demais

E vive cheia de romantismo e esperança

Como se sob o peito dela batesse o coração da moça de Batatais

Conhece então e se casa com um segundo rapaz

Descobre aos poucos que ele é um fanfarrão

E mais uma vez bate a sua porta a tão temida desilusão

Quem disse que a vida de uma miss é sempre glamourosa?

Somatizando tristezas ela enfrenta e vence um câncer no seio esquerdo sem nunca deixar de ser formosa

Na passarela da vida descobre como toda moça tristezas e alegrias

Hoje pinta quadros como uma terapia

O dinheiro se foi e com ele a ilusão

Continua uma mulher linda e aos 70 anos ainda se mantém indomável seu coração

A maturidade nos rouba a juventude mais os sonhos levamos conosco até para outra dimensão

Nas noites frias até Martha Rocha sente solidão

Suspira e fecha os olhos como uma moça sonhadora e apaixonada

Feliz são as flores que se banham no orvalho dessa fria madrugada

Como moças que se banham no suor e no prazer de serem amadas

Olhando da janela e vendo a lua dos enamorados brilhando soberana lá no céu

Se lembra que um dia também já foi uma moça quisá tão romântica como Raquel...

Raquel Cinderela as Avessas
Enviado por Raquel Cinderela as Avessas em 04/06/2011
Reeditado em 04/06/2011
Código do texto: T3013906