AMOR, ASA INTERDITADA

Entre os dedos entrelaço

esta saudade do amor

flor extinta há tanto tempo

que já nem mesmo recordo

seu odor e sortilégio.

Percorro o hoje em exílio

entre o furor do mundo

e as artimanhas do medo.

Brilhos me escapam.

No meu sonho

a dor é esfinge atenta

e o coração, marinheiro

lúcido e alheio

ao leme de seu barco.

Outras terras outros mares

acenam-me em segredo

e o desejo flui

pelas artérias e veias

mas o rouxinol oculto

por trás das grades do peito

não ousa

romper os véus do seu canto.

Amor, asa interditada

retrai os céus do seu voo

nas entranhas desta hora

feita de recolhimento

tal flor às avessas.

Porém, na raiz profunda

da canção da primavera

e com as mãos doloridas

de luz e sombra

vou aprendendo o ofício

de tecer a esperança

e a luz de um mais claro dia.

Poema escrito em 1984

Republicação.