Olhos de tapeçaria.

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Estou a viver de teus sinais,

da melancolia dos retratos daquele setembro

de amor inusitado.

As fotografias, eu as guardei do teu rosto,

gravando tuas impressões dentro do

riscado , do rascunho da festa

que eu não pude ir, apenas soube.

Olho-te e sigo-te então com minhas

pequenas mortes antecipadas.

Cubro-te de sorrisos sem te ver,

sinto a tua boca tão perto,

quase um desespero quente

em meu pescoço.

Ouço tua voz e a repito em sons

e ritmos de alquimias internas,

penso o teu presente,

sigo tuas noticias engolindo silêncios.

Testemunha de um amor não acontecido,

mas há séculos esperado,

desejo teu regresso ao longe

nos calados dos barcos serenando no mar.

Podes me ver?

Podes me crer?

Colho teus vestígios em mistério anunciado,

selo minha vontade de dizer “te amo...”

e vou de escotilha enferrujada a fim de não abrir segredos.

Com os meus dedos caindo em sal, confidenciados,

sou toda angustia em palavras escritas

nos subterrâneos da terra da minha linguagem.

Meus seios dormem e te aguardam.

Meus cabelos envelhecem sozinhos.

Visto a capa de proteção

contra a vigência da espera,

durmo te trazendo em sonhos,

compondo em tramas a alegria da tua volta.

Vou ninando a vida sem pressa,

abraçando o vulto da tua estada,

acarinhando o teu rosto de mãos.

Depois, quem sabe, um dia de futuros,

meus braços longos de despedidas

tragam ao teu fruto flores, velhices minhas,

nova infância do amor no tecido que setembro.

Patrícia Porto

Patricia_Porto
Enviado por Patricia_Porto em 26/05/2011
Código do texto: T2995346
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