Poema 0894 - Convivência abstrata
Voltarei aos não(s), para nunca mais falar em partir,
cessei um instante as palavras que caíram da boca,
fui janela para um templo sem portas,
expulsaram o deus que imaginei ser eu, até a morte.
Nenhum homem é mais que nada, mais que outro homem,
a embriaguez do sucesso não tem cura,
carrego meus vícios pelas ruas vazias dos meus amores,
tento desculpar-me uma, milhares de vezes erros repetitivos.
É amargo o gosto da solidão acompanhada,
caminho rasteiro entre meus desejos de gloria e riqueza,
ouço adeus antes mesmo de bater em qualquer porta,
então parto cedo, bem antes de ser apresentado aos residentes.
Levo comigo o sorriso que jamais dividi com alguém,
adormeço minha pele de anjo aquecido em pêlos de lobo,
faminto, volto os olhos a cada despedida e suicido,
mato minha coragem com minha pouca humildade.
Tentarei continuar, tentarei aprender a lidar com gente,
viver não é lutar, não é matar amigos, não é ser mais que outrem,
tenho que aprender a ser igual, tenho os mesmos pecados, as dores,
sou comum como tantos, especial como nenhum, voltarei, um dia.
23/11/2006