FRAGMENTOS DE UM POEMA QUASE MUDO

Sopra-me o vento o inebriante sândalo.

Minha voz enfurecida trisca a madrugada

Em busca do teu lábio sarcástico.

Sopra-me a brisa meus mil fragmentos.

Sou então da noite, o maior entulho.

Resto de um vidro quebrado.

Nem o réptil faminto

Seria capaz de romper essa carne dolorida.

Nem o ar seria o ar que respiro.

Nem a brisa seria minha solidão de pó.

Esquinas insolúveis e remotas aos meus pés!

Insosso verão de ausência intransponível.

E a brisa incansável sopra-me fragmentos,

Fragmentos de um poema quase lírico,quase mudo.

Era, então, a pior madrugada.

Quando ao toque de tuas mãos macias,

Abri meus olhos e sorri, despindo-me da alma,

E encontrando finalmente teu corpo... Teu lábio...

Fragmentos. . .poemas... Lembranças... Corpo...

Quase mudo... Quase tudo... Quase quebrado... Quase vidro...

Quase sonho... Quase tristeza... Quase ausência... Quase só...

Castro Antares
Enviado por Castro Antares em 23/05/2011
Reeditado em 21/06/2011
Código do texto: T2989022
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