O AMOR...
E meu amor que era enorme
hoje se derrete igual a neve
que sob o sol se infiltra nas
gretas fundas do solo casto.
E nunca mais neva vontade
e a chuva chove é saudade.
E o amor que de impetuoso
aborrecia a tantos, perdeu
o perfume, o lume, o rumo.
Aquele calor que abrasava
minha pele, hoje esfriaria o
mundo. É fogo de água fria.
Eu poderia ter lutado e não
lutei; eu devia ter reagido e
não reagi. E não houve sol.
Nosso amor de frio feneceu.
Eu não consigo me lembrar
de como é se sentir querido.
Foi o amor mais quente que
gerou o inverno mais longo
que se tem notícia. O amor
de neve se cobriu e cobrou
de nós um alto preço. Ouro
puro que no ar se dissipou.
O amor que era enorme se
fez pequeno. De acanhado
diluiu-se, fugiu pela janela
numa tarde outonal, fugiu
de nós para sempre. Feito
pássaro que voa do ninho.
Entre uma ocasião e outra
nem nos demos conta que
que o amor se contorcia...
Buscava um azul sem final
para voejar dentro de nós,
e nos salvaria de prantear.
Aquele céu azul e alvejado
que o amor buscava jamais
houve de fato; uma nuvem
negra pairava sempre no ar,
e dia claro virava noite feia,
e noite quente chorava frio.
E esta falta de amor de hoje
tira-me o ar, e respirar outra
vez o amor o amor de antes
não é preciso, nem possível.
Melhor outra estrada e outro
sol, e outra manhã de verão.
Quiçá fosse a força do amor
que nos cansou. Partiremos
agora rumo ao final, amanhã
seremos passados, mas o fim
já habita em nós, abracemos
o último fio de amor que há.
Sei que nosso amor morreu.
Sei que preciso partir agora.
Sei que chorarei, e chorarás
também, mas partirei. Hoje
dormirei noutra cama, e sei,
a neve ainda cairá em mim.