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Falas como sempre da morte falas como sempre

desde os primórdios desde os prenúncios

das tuas falas primeiras e também dela sempre

continuam as palavras quando te calas quando

em mim se calam os sentidos e os silêncios dela

a morte sempre a morte fundamento

da tua linguagem

mas a vida a espreitar a espreitar-te sempre

no centro da ponte na ponta da outra ponta

da linguagem.

Sonhei quanto sonhei com a tua incoerência

com a tua traição ao tema da tua pena em tua boca

com os desvios de presença da morte sempre jovem

nos mares de navegar sempre este destino

de incessante a cantares. As perdas achados pérolas

as cruzes de a calares no mais fundo o teu pisar

na terra observando dela as pegadas teu mergulho

nas águas conchas desta morte sempre-viva

e sempre, a estreitar-te sempre,

a vida-que-não-morre, sempre a vida,

no centro mesmo da amada em teus dizeres

no centro mesmo da amada em teus calares

sempre a estreitar-te, no centro

da fonte da vida-linguagem

linhagens...

Poema escrito em 2007.

Republicação.