Amargo sabor de solidão
Amargo sabor de solidão que fere e mata aos poucos. Os olhos já não conseguem ver as trilhas que a alma deve seguir, a boca já não se recorda do sabor do beijo, e não se pode mais ouvir a beleza que há nas canções que falam desse amor desconhecido. Fica a vida sem sentido, fica a luta sem sabor, fico eu sem esse amor. Levanto-me da cama, como que num ato de repetição de cada dia, sem ter mais a alegria de ver o sol nascer, de ver lá fora, a grama crescer, e tudo o que antes era tão lindo e vívido, agora parece perder a cor. Nada mais há, sem teu sabor. Nem mesmo as flores me trazem mais a alegria de me saber viva, pois que, morro um pouco mais a cada instante, seguindo por essa vida como um ser errante. As batalhas, já não trazem o sabor da vitória, parece até que, toda e qualquer luta é inglória e que nem vale a pena tentar. Mas ainda assim, insisto em continuar. Busco em cada par de olhos que cruzo pela rua, a mesma felicidade que existia em meus olhos, quando eu me sentia sua. Mas já não há mais o, você e eu, em algum canto esse encanto se perdeu e mesmo assim não há culpado pois não há culpa, pois nada se prometeu.O simples ato de mudar de um objeto de lugar, que dava lugar aos objetivos de se continuar, hoje não fazem mais o menor sentido nem dão o menor prazer, deixo tudo como está, deixo a vida acontecer. Pouco importa se a cama não foi arrumada, não ligo mais para nada, e se acabou o perfume do frasco, tanto faz, pois acabou-se em mim também a paz. Estou tão ou mais vazia que o pequeno pote, onde o açúcar se guardava, e do qual pouco se lembrava por ser tão doce estar em sua companhia, tudo deu lugar a esta estranha agonia. Se hoje ardo em febre, já não é mais a febre daquela paixão que eu sentia. O vinho avinagrou a espera de nosso brinde ao amor, o azedume na taça, é agora o mais preponderante sabor, pois já não há sua boca na superfície da taça mas sim a minha boca, que essa dor amordaça. Mas o mais estranho nisso tudo, é a saudade que sinto, se nem sei quem é você. De onde vem ou se virá um dia, para por de novo em meus olhos a alegria, com o amor que nunca vivi, e que espero chegue logo, e que venha nos passos do vento ou trazido por meu pensamento, para receber os meus beijos, inflados de tantos desejos, de amar desse jeito assim. Um amor manso e tranqüilo que preencha de vez o vazio, que o tempo deixou em mim. Chegue logo, meu desconhecido amor, porque há tanto te espero e te sei doce e sincero, que fica difícil esperar. Mas hei de fazer uma grande festa, no momento em que você chegar!
(Fátima Ayache) 03/10/2008