O amor e a traça

É fogo queimando a alma

É terra secando o mar

É poeta entrando em desespero

Ao procurar o que não pode amar

A traça devorou nosso romance

Comeu e expurgou nosso final feliz

Sobrou apenas a capa dura

Com seu cheiro amarrotado de verniz

E sob a terra os vermes se espantam

Por não entrar em decomposição

Essa mulher que amei é uma estátua

Vazia, sozinha e sem coração

Até nosso amor às sombras padeceu

Mas seu rosto pérfido nem mesmo estremeceu

Por se mostrar maior que nós

Finge nada ter acontecido

E se mantêm intacta, bela e de nariz erguido