AMOR UNISSONO

Sou o que resta em tua caatinga

A relva macia que escorre dentro de ti

Sou a confissão e não a penitencia restinga

Sou o que bajula o que anula

O que não deixa rasura neste corpo de mulher madura

Criador na criatura

Sou a embocadura do rio

A buscar freneticamente teus mares

Entender tuas marés

Tuas correntes marinhas que me algemam

Tuas Erínias gritos, gretas, grutas

Tuas ondas que bailam como sal de fruta

Em teu corpo de mulher adulta

Sou o ósculo da ostra cicatrizada

Que ferida fez-se pérola

Sou a crosta de tua encosta

O horizonte de tua vista remota

Sou em teu corpo a mola da onda brincante da marola

Que te faz cócegas até rires quando frouxas choras

Sou a serpente ígnea que se arrasta

Diante de teus pés a subir-te a coluna

Pela escadaria de Jacó

Céu e inferno num ser só

Enroscando-te na lascívia lívida

E incontida de um beijo no cangote

Fecha o bote e sente a morte num

Segundo fechando a glote num espasmo muscular

Até voltar a vida ávida aliviada

E adormecer encarnada

Entorpecida, exaurida e totalmente amada

Hoje aprendi que não somos dois depois do após

Mas as metades de um

Com almas lavadas estendidas nos lençóis...