UMA DEUSA ME ACOLHE

Uma deusa me acolhe

Com pompa e circunstância

Revolve-me os cabelos de gelo

E dissolve-me das unhas dos pés,

As raízes dos meus desmazelos...

Uma deusa me implode

Com relax e delicadeza

Reúne, rápido, meus pedaços

Lança-me, em postas, à panela

Retempera minhas costas de aços

Uma deusa me engole

Com ambição nobre e volúpia

Consome-me em braços, detroços

Igual um Saturno de saia

Digere-me. Chupa-me os ossos

Uma deusa me incorpora

Em toda glória e heroísmo

Assume-me nos atos de fora

Tal fora ela o crucial motivo

Da paz em que desfaleço agora

Uma deusa me completa

Com sua altivez e santidade...

Prescinde de mostrar-se me sagrada

E sangra-me de sua bondade

Ao receber-me à ponta da sua espada