Haveria um olhar equivocado
Desses distraídos e de lado,
Para todas as coisas tão belas.
Um esgar oculto num sorriso fútil
De uma tristeza de amansar as feras,
Um olhar descrente e descuidado
Para as paisagens mais desoladas.
Haveria constelações de esperanças
Que mal brilharam na escuridão,
A ilusão d'alguma bem-aventurança
Que enganaria o coração sem emoção.
Haveria a promessa de um outro voo,
Um arroubo de se fazer imensidão,
Num arrebatamento o que não seria sonho
Era um não sentir mais os pés no chão.
Haveria uma palavra salvífica, enfim,
A proclamar o fim de toda a solidão.
Uma poesia que mitiga a imensa dor
Da vida e do amor: essa desolação.
Haveria algo bom, fosse o que fosse
Que teria de haver, seja o que for,
Algo que se possa esperar com mansidão,
Não fosse a desolação da vida e do amor
Que torna a dor deste silêncio escuridão.
Haveria um motivo para lutar com fervor
E para não mais viver assim sem razão.

A desrazão do que sinto e penso
Não é vida, é este amor intenso.
Por tudo haveria mil motivos para cantar assim,
Mas havia de haver um motivo para calar, enfim
A vida e o amor, toda essa poesia em mim...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 14/05/2011
Reeditado em 19/05/2021
Código do texto: T2969542
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