NÉVOA

Flor mais íntima, dos meus desejos mais profundos

Se não trouxesse comigo a certeza de teu descuido e inocência

Abandonaria o desejo de colher teu segredo mais puro

Deixaria os anseios pelo aroma de teus lábios macios.

Porque ao desabrochares teu encanto para a existência

Deixaste fluir tua essência, confundindo-se com a bruma.

E, inebriado, tornei-me errante em meio à névoa densa

Buscando alcançar teu perfume afetuoso.

Sem saber, ao ostentares tua exuberância e formosura

Da tua origem pura, por crueldade ou instinto de defesa

Feriste com espinhos a mão que te colheria com brandura.

Mas consentirei que o sol da manhã que faz cintilar

As lágrimas que a madrugada assentou em tua tez de seda

Dissipe a neblina que se compôs na minha vida.

Perceberás que foste impedida de decifrar os meus olhos então

Que quando alguém quis colher-te em meio à cerração

Era eu, descobrirás, era eu, ao veres a minha mão ferida.