AMANHECER NA JANELA
Quando a noite
Em seus últimos instantes
De escuridão profunda
Agoniza no colo
Da pálida madrugada,
Com o rosto colado
Aos vidros transparentes
Da minha janela
Eu me perco em suspiros
Enquanto observo
Do lado de cá
O mundo que passa
Do lado de lá.
Janela, vidros, fronteiras...
Olhos sonhadores
A desgarrarem-se do corpo
Covardemente acorrentado
A minha existência
Para perderem-se tristonhos
Pelas praças da cidade
Em busca de um segredo.
Se fosse possível!
Se eu tivesse coragem
De enfrentar meus medos!
Eu quebraria essa vidraça
E sairia correndo
Atrás dos meus olhos.
Mas o corpo não se move
E a janela continua inteira!
Antes que a noite acabe
Meu olhar estará de volta;
Triste, calado e sozinho.